Diário

22 de Dezembro de 20011
Que semana! Está a ser uma semana longa, uma semana terrível diria... A minha menina Sunny morreu, encontrei um gato preto vitima de macumba, dos gatinhos de rua internados a velhinha corre perigo de vida por causa dos tumores, o Cohen apareceu morto sem causa aparente e a Vasquinha foi de urgência para o vet onde se descobriu que tinha hemorragias internas causadas por um tumor.
Não consigo pensar neles e evitar o choro.
-"Não são teus, tens de aprender a lidar com isto!" - é o que me dizem, mas como? Não me sabem dizer, só dizem que tenho de criar defesas, se fosse assim tão fácil já as tinha criado.
Será tão difícil assim limitarem-se a aceitar os meus sentimentos? Será assim tão errado sentir tristeza pela morte mesmo que seja de animais?
Neste momento só preciso mesmo de descanso, estas situações todas na mesma semana foram demais para mim, por vezes tenho vontade de desistir, só me falta a coragem para isso...

16 de Dezembro de 2011
Ontem foi um dia que nunca  mais esquecerei... Tinha deixado a Sunny para ser esterilizada na terça, passei para a ir buscar ontem e deram-me a pior noticia: a Sunny morreu!
Cheguei à clinica e mandaram me para o consultório, -"Daniela eu liguei para ti"
-"ah, eu sei mas eu estava a trabalhar e como vinha buscar a Sunny não retornei"
-"sabes, a esterilização correu bem e fechamos-lhe o olhinho, correu tudo bem. Mas ontem ela teve uma hembulina pulmonar, esteve com oxigénio, mas estava muito fraquinha..." - ficou a olhar para mim á espera de uma resposta.
-" isso quer dizer o que?" - perguntei-lhe baralhada
-"ela morreu"
Eu desabei... só a tinha levado para esterilizar e isto acontece?
Vim embora, mas a meio do caminho voltei para trás para trazer o seu corpinho, fiquei tão baralhada que nem a trouxe... como é possivel ter-me esquecido dela? Agarrei o seu corpinho frio e encostei-o a mim na esperança que acordasse  :'(
Não acordou, dei comigo a pensar que como foi operada os solavancos do carro poderiam magoá-la e, quaando cheguei a casa embrulhei-a num kispo para não ficar fria, é fantástico o que a nossa mente faz para tentar enganar-nos da própria morte. Apesar de tudo não acreditei que fosse possivel, resolvi desembrulhá-la e, por momentos, acreditei que não fosse ela, mas era... passei a noite a chorar, e hoje nem consegui ir trabalhar de manhã, a dor da perda é muita, arrisco dizer que até maior do que aquela que sentiria pela perda de certas pessoas. E porquê?  Ela era a minha menina, a gatinha que alimentei a biberão quando a roubaram da mãe, a que cresceu a acompanhar-me e que como perdeu um olho por causa da coriza, ninguém quis adoptar.
Era a minha amiga, a que vinha a correr ter comigo quando eu chegava a casa e contava-me, mesmo, como foi o dia dela, depois beijava-me até eu a afastar enquanto me ria ás gargalhadas pela persistência dela. Era a que eu procurava mal chegava a casa se ela esstivesse fechada, era a que brincava comigo quando eu chegava triste a casa, era a que se chateava quando os outros gatos se aproximavam e eu deixava de lhe dar atenção. Era a que conquistava cada bocadinho do meu amor e retribuía em doses industriais :D
Era a minha menina, a que dormia comigo e conversava até altas horas da noite apesar de eu a empurrar para debaixo dos cobertores numa tentativa de afagar o som da conversa dela...
Era a minha menina, só isso e simplesmente assim... era a minha menina.
A minha menina que me fez ser uma pessoa melhor, a que me fazia sorrir quando só me apetecia disparatar com toda a gente, a que me fazia aproveitar todos os momentos como se fossem os últimos. Até que foram, momentos longe de mim, em que deve ter achado que a abandonei na clinica, mas sei que o amor  dela é sem maldade, amor que perdoa mesmo quando não entende, amor da minha menina, amor verdadeiro, amor de gato... amor...´foi isso quee me deu nestes 8 meses mesmo quando eu não retribuia na medida certa.
A minha menina que levou com ela para aquele pedacinho de terra um pedaço de mim, o meu pedaço mais verdadeiro, mais carinhoso e mais saudoso dela...
Fazes-me falta, amo-te muito minha pequena Sunny!
(Sei que muitos não entendem isto e até ficam escandalizados pela comparação de valor da vida humana e animal, mas a verdade é que ela fez parte da minha vida de forma completa enquanto que muitos humanos limitam-se a olhar e criticar)



6 de Dezembro de 2011 (segunda-feira)
Os casos são tantos que acabo por nem ter tempo para escrever no blogue :(
Foram os 17 cachorros que andei a cuidar durante um mês e meio, foi uma corrida contra o tempo mas todos conseguiram casa, estava eu já a baixar a guarda quando descobri mais uma cadela (da mesma matilha) com mais 4 bebés e uma das prenhas anteriores já prenha. Ando sempre a correr de um lado para o outro, decidi dar um tempo ás esterilizações mas não consigo mesmo, amanhã já vão mais duas gatas que a muito custo consegui os fundos, e gatos bebés? Já lhes perdi a conta, mais e mais colónias (algumas que nem me pertencem) estão a transbordar de bebés... mas o espaço foge... encomendei uma jaula para colocá-los aquando da captura, assim fico com espaço para mais e será mais fácil amanssá-los.
Mas a minha prioridade agora é esterilizar a Loba
De todos na matilha é a mais "dócil", e de um cuidado com os seus filhos de doer o coração, se lhe levamos uma lata de comida húmida é vê-la a levar  na boca e deixá-la perto dos filhos, está magra e esfomeada mas mesmmo assim a prioridade dela são os filhos... Vou ter de usar calmantes porque nao arranjo quem empreste a armadilha e vai ser dificil, eu sei... mas vou conseguir e, se Deus permitir, vou amanssá-la e encontrar o lar que ela merece :)
Bem, vou dormir, amanhã acordo cedo para levar as gatas ao vet antes de ir trabalhar
25 de Julho de 2011 (segunda-feira)
Hoje foi um dia com algumas emoções... Há cerca de 4 dias capturei uma gata super prenha, era  suposto mandá-la esterilizar mas esta situação levanta-me sempre a questão: "Se sou contra o aborto humano deveria egoistamente fazê-la abortar para evitar mais trabalho para cima de mim?"
Não consegui sentenciá-los à morte e, quatro dias depois de a ter capturado, nasceram... tão sensíveis, tão pequeninos e bonitos... Ao vê-los fico feliz e certa da minha decisão.
Ás 20h fui capturar perto da escola, apanhamos o "Chicão", está muito doentinho e como tal a Antonieta vai levá-lo ao vet amanhã para se decidir o seu destino.
Como não apanhamos mais nada fomos para a Colónia do Londres. Estacionei o carro e vi três miniaturas de gatos a brincar na estrada. Fiquei logo aflita, desde que comecei as esterilizações nesta colónia já vi tantos a serem atropelados nesta estrada...   :(
Tirei a armadilha do carro, montei-a e voltei para o carro.
Nem 5 minutos levou para a armadilha ser accionada... um bebé de cerca de 3 meses tigrado tinha sido apanhado...  :)   Que alivio! Menos um na rua (em compensação mais um para minha casa que está lotada).
Voltei a montar a armadilha e distribuir comida pelo chão da mesma, viramos as costas e mais um apanhado...  :)     Acho que deve ser uma gatinha, cerca de 4,5 meses, amarela e branca, linda! Ainda assim faltam 3 bebés. A armadilha volta à acção mas com efeito demorado. Desistimos! Já devem ter percebido como funciona e nem se aproximam.
No entretanto apareceu o senhor do costume, que insiste em dizer que lhe roubei os gatos amarelos, gatos esses que viviam numa casa abandonada, magros e muito doentes (não estou a exagerar), e que quando lhe perguntei se realmente queria algum, limitou-se a desviar o assunto porque lhe pedi que cuidasse do gatinho bebé mas dentro de casa...
Tira-me sempre do sério... A Antonieta ainda tentou falar com ele jeitosamente, mas nem vale a pena o esforço.

5 de Junho de 2011
São 5:10 da manhã, acabo de chegar a casa do vet e com a minha bebé morta.
Esta linda gatinha parecia uma bonequinha, toda branquinha e com pequenas manchas, na cabeça, pretas e laranja. É filha da Boneca, a gatinha que os meus pais alimentavam na loja deles que alguém teve a brilhante ideia de envenenar, felizmente tudo correu pelo melhor.
Depois da minha ronda rotineira pelo quarto deles, reparei que a respiração dela estava muito forte. Trouxe-a para perto de nós, para a podermos vigiar durante a noite.
Eram quatro e pouco da manhã quando dei pela minha mãe a remexer nas minhas coisas,procurava o contacto das urgências da clinica.
-"Ela está a morrer"- disse-me ela, levantei-me num salto, liguei para o vet e saímos a correr para lá.
Doeu muito vê-la a lutar pela vida, cada tomada de folêgo era uma vitória... Tive de tirar o pé do acelerador, as lágrimas turvaram-me os olhos e já nem via a rua em condições.
Faltavam uns 500 metros para chegarmos à clinica quando ela deu, como costumamos chamar, o suspiro da morte. Essa imagem não me sai da cabeça, enquanto tenta tomar a última golfada de ar, solta um miado de desespero e morre...
Só restava ligar para a vet e avisá-la do sucedido:
-"Poderá ter sido uma má formação do sistema respiratório, acontece muito em bebés."
Não me confortou, poderia ter feito mais para o evitar? Eu sei que sim... Mas agora nada mais posso fazer por ela, senão recordar essa tão linda e doce Boneca de dois mesinhos que tanto lutou...   :_(

Diz-se, e bem, que uma desgraça nunca vem só.
Depois do almoço recebi uma chamada da Isabel, adoptante do Tomás, irmão do meu Loiro, tinha um tom grave que não adivinhava boas noticias.
-"Daniela fizemos o teste ao Tomás e ele é imunodeficiente (FIV+), decidi avisar-te pois tu ficaste com o Loiro, certo?"
Sim, quando os retirei daquele telhado velho, o Loiro era o que vinha em pior estado, depois do longo tratamento não consegui  deixá-lo ir embora, e agora condenei todos os meus gatos...
-"Obrigada por o tratares tão bem e por me avisares".
Desabei em choro, esta doença adivinha morte a curto ou a longo prazo, e de morte já tenho a minha conta: o Survivor, o Sebastião (que morreu há cerca de um mês com a mesma doença), os irmãos do Trash e o Trash, a pequena Boneca...
Não quero sequer imaginar que o Mickey, o César, o Raj, o Loiro, a Vadia, a Jurema, e a Boneca correm esse risco.
Chorei por um bom bocado, limpei as lágrimas, fiz a mochila e vim passar a noite a Ponte da Barca com os meus pais. Mas não viemos só os três, trouxe uma pequena história de coragem conosco...
Nikita, chamei-a assim depois de ouvir o tema "Fernando" dos ABBA, que me lembrou do tema "Chiquitita" e fiz a ligação a Nikita, ainda não descobri o porquê   :)
Tirei-a da Colónia do Pátio da Venezuela, vivem no pátio de uma espécie de ilha e uma senhora, que não tem muitas possibilidades, os protege.
E digo PROTEGE mesmo, pois os vizinhos afogam os bebés, fazem pontaria com os carros para atropelarem os adultos...
Decidi trazer a Nikita comigo, parecia-me desnutrida e muito doente. Levei-a ao vet e ficou lá uns 2 dias.
-"Que idade achas que ela tem?"- perguntou a vet
-"3 meses"- disse eu
-"Pois, no minimo 6 meses".
Parece impossivel, tão pequenina...
Felizmente tudo correu bem e está uma gata linda e impossivel de aturar de tanta brincadeira.   :)



28 de Maio de 2011 (sábado)
O meu pequenino Trash morreu...
Pouco passava das 10h e, como estava perto, fui visitá-lo. A menina da recepção foi ver onde ele estava e voltou com a noticia: " A doutora levou-o para casa durante a noite para lhe dar biberão, mas ele nao resistiu."
Durante 2 minutos aguentei-me... depois desabei em lágrimas. Como é possivel? Pobrezinho! Será que fiz algo errado? Nunca saberei, só espero que ele soubesse o quanto eu gosto dele e o quanto me doi perdê-lo assim.
Até sempre meu pequeno Trash...

26 de Maio de 2011
Não consegui  aguentar nem 24h para saber novidades do pequeno Trash.
Ontem levei-o de urgência para o veterinário com o que me pareceu ser o intestino de fora, o meu diagnóstico mostrou-se certo, teria de ser operado e a doutora disse-me que as probabilidades de ele sobreviver eram de 20 para 100. Fiquei desolada, andei a alimentá-lo a biberão, ele conseguiu sobreviver a uma noite e um dia no balde do lixo e agora recebe quase uma sentença de morte.
Passei eem casa de uma senhora que alimenta gatos de rua, só para ver se estava tudo bem. Mal me viu pediu para ir com ela ao balde do lixe porque tinha lá visto uns gatinhos bebés. Dentro de um saco de batatas estavam três bebés com cerca de uma semana, um preto já esmagado provavelmente pelo lixo, um tigrado muito fraquinho, que teve de ser abatido pois a parte de trás do seu frágil corpinho estava esmagada, e o Trash, um lindo gatinho de pêlo branco acinzentado e olhos azuis.
Ao longo das duas semanas que cuidei dele ganhei-lhe muito afecto, alimentava-o a biberão, limpava-o, acarinhava-o... Dava-me uma realização imensa ver aquela bolinha branca rastejar até mim quando me via...
Tão saudável, tão gordinho, nada deu a entender, ou até  mesmo prever esta terrivel situação.
Bem, foi operado e sobreviveu, quando soube até saltei de alegria, eu sei que ele quer viver e não estava à espera de outra noticia, não está a comer muito bem, mas deve ser normal, deve ter dorzinhas da operação...
Não podia acabar de melhor forma o meu dia, O TRASH SOBREVIVEU :) eu já sabia...


Voluntariado, supostamente é um serviço em que não esperamos algo em troca, essa será a definição mais ética e politicamente correcta que conheço. Até que ponto os voluntários pensam assim? Não sei, mas eu não penso. É chocante, eu sei, um verdadeiro voluntário tem de ser altruísta, mas será que isso por si só significa não querer nada em troca? O combustível do nosso esforço é sem dúvida o amor à causa, o ver em primeira mão os bons resultados dos nossos sacrifícios, privações... Não há nada melhor do que sentir que podemos fazer a diferença no mundo...
Obviamente que não sou voluntária por interesse, mas quero realmente algo em troca, não sou eu ninguém para fazer exigências, não "quero", "gostava".
Gostava que as pessoas não achassem "anormal" fazer o bem aos outros, que mesmo não querendo ajudar não dificultassem, que fossem voluntários.
O que é se voluntário? Para mim? Não acho necessário agregarmo-nos a alguma associação, acho sim necessário agregarmo-nos à causa.
Escreverei sobre a causa animal por estar mais familiarizada com esta.
Colocar tacinhas de comida e água, prover dentro do possivel cuidados básicos de saúde e higiene, construir pequenos abrigos, esterilizar... Este é um voluntário!
Este é o voluntário que, sozinho ou acompanhado, dá um pouco do seu tempo a quem mais precisa...
Poeticamente diria que ser voluntário é possuir a arte de querer e saber ajudar.